domingo, 18 de dezembro de 2011

As exigências que a vida nos faz

Ando um pouco cansada da mesmice. Mais do mesmo, mais do mesmo, mais do mesmo. É um círculo vicioso, sem fim. E chato. Todo mundo é igual, pensa igual, se veste igual, usa a mesma cor de esmalte. E se você é diferente ai-que-horror.
Não sei quem inventou que para uma mulher ser feliz ela tem que casar no papel e na igreja, ter filhos que um dia vão fazer aula de inglês, francês e javanês, ter um marido que seja gente boa, ter um emprego que dê alguma satisfação, ter amigos leais, ter o cabelo do momento. É muita chatice.
Se a mulher é homossexual, que horror. Se quer casar e morar em casas separadas, que horror, sua avó vai ficar espantada. Se não quer marido e quer fazer produção independente, que horror, afinal, uma criança tem que crescer em um lar com figura materna e paterna. Bullshit!
Uma criança precisa ser criada com amor, atenção, disciplina. Não importa se tem duas mães, dois pais, uma mãe, um pai. Não importa se os avós criam, se a tia toma conta. O que importa é o amor. É claro que existe o “mundo ideal entre aspas mesmo”. Mas no “mundo ideal entre aspas mesmo” ninguém passaria fome, todo mundo teria estudo, nenhum político seria corrupto, não teríamos crianças fumando crack, não teríamos gente morrendo na fila do SUS. Estou mentindo?
A sociedade e a vida nos exigem muito. O tempo inteiro. É um massacre. Você tem que ser bem informado, você tem que ser alinhado, você tem que fazer caridade, você tem que andar vestido como a mocinha da novela das oito, você tem que ter o corpo da última capa da revista que ensina todo santo mês como enlouquecer seu homem entre quatro paredes, você não pode comprar bicho porque é um horror, afinal, temos muitos cachorros de rua que precisam ser adotados. É um saco quem dita regras. Seja assim, não seja assado.
E se eu quiser comprar um cachorro vou ser crucificada? Sou melhor ou pior do que alguém que adota? Eu sei que tem muito bichinho na rua precisando de adoção, mas a pergunta aqui é: sou melhor ou pior do que alguém que adota bichos? Sou melhor ou pior do que alguém que adota crianças? E se eu quiser ter um filho meu? E se eu quiser comprar um bicho? Se for seguir essa linha de pensamento tem muita criança esperando um lar. É ou não é?
É muito blábláblá. Muita gente posando de boazinha, de legal, fazendo a linha boa praça, faço-o-bem-para-a-humanidade. Há muitas formas de fazer o bem para a humanidade. Eu, por exemplo, ajudo uma ONG que recolhe bichinhos de rua. Eu, por exemplo, dou roupas que não uso mais para instituições de caridade. Eu, por exemplo, ajudo da minha forma. E acho que faço pouco, queria fazer muito mais. Mas ninguém pode meter o dedo na minha cara e dizer que eu devo fazer isso ou aquilo.
Eu moro junto, não sou casada. E meu relacionamento não é melhor ou pior do que o de uma pessoa casada. As pessoas querem rótulos. Ficam o tempo inteiro querendo dar nome para as coisas. Batizam, insistem, cismam.
A sociedade, as pessoas e a vida não têm que exigir nada da gente. Cada um se veste e se porta como quer. Cada um fala e age como quer, desde que respeite o outro. Desde que não se traia. Desde que não esqueça seus princípios. O que você faz é problema seu. Mesmo porque a gente nunca deve esquecer que tudo tem uma conseqüência. Mas não é uma revista, uma novela, sua mãe, a igreja, o centro espírita, seu marido, suas amigas ou o dono do bar que você frequenta que vão dizer a forma como você tem que viver. Em outras palavras: se cada um cuidasse do seu rabo e não se importasse em criticar tanto a vida do outro o mundo seria um lugar muito melhor para viver.
Chega mais: @clariscorrea
clarissacorrea.blogspot.com

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