As razões pelas quais um relacionamento começa costuma ser
as mesmas pelas quais ele termina. Não estou sendo original, muitos
intelectuais já escreveram sobre isso, mas a gente continua achando que duas
pessoas se unem e se separam por motivos grandiosos. Unem-se por causa de um
amor avassalador e afastam-se por causa de uma briga avassaladora. Não é bem
assim.
A atração se dá por pequenos detalhes. O jeito dela sorrir
que cria uma covinha do lado esquerdo do rosto. O jeito dele usar o boné virado
para trás. A maneira de como ela se despede no telefone. A maneira como ele
toca no cabelo dela. O fato de eles gostarem os mesmos filmes e odiarem a mesma
música. A penugem loira do braço dela. A tatuagem no ombro dele. O jeito
carinhoso sela com as amigas. Os poemas sensíveis que ele escreve. Pequenos
retalhos de uma colcha que vai sendo costurada durante todo o relacionamento. Até
que um dia fica pronta, aquece por um tempo e aí começa a esfriar.
Infidelidade, brigas e espancamentos costumam acelerar o
fim, mas não são os verdadeiros culpados pela derrocada da relação. São apenas conseqüências radicais daqueles pequenos
desgastes que vão minando, em silêncio, a rotina doméstica. Ele não suporta a
mania que ela tem de debulhar o milho no prato. Ela não suporta a mania dele
ficar zapeando o controle remoto sem parar em canal algum. Ele acha ridícula a
maneira de como ela amarra o cadarço do tênis. Ela detesta quando ele conjuga o
verbo errado. Ele acha o perfume dela enjoativo. Ela acha que ele escova os dentes com displicência.
Ela não agüenta o ronco de urso dele. Ele queria que ela parasse de fumar. Ela
queria que ele parasse de chegar atraso. Eles queriam mágica: que seus
parceiros virassem outra pessoa, mantendo-se eles mesmo.
Solução? Se eu tivesse uma, não estaria aqui. Estaria rica.
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